domingo, 13 de maio de 2012

Posso entrar ?


— Não quero mais brigar.
— Por quê?
— Não aguento ficar longe de você.
— Então abre a porta.
— O que você vai fazer?
— Eu não sei. Te desculpar.
— Tem certeza que não precisa pedir perdão também?
— Eu peço.
— Pede? Você é orgulhoso.
— Não me faça voltar atrás. Abra a porta.
— Você não pediu.
— Quero te ver.
— Só ver?
— Quero te abraçar e te beijar. E aí pedir perdão. E aí te perdoar também.
— É mesmo você aí? – ela ri.
— Abra a porta para ver.
— Quer dizer que não é?
— É sim. Quem mais estaria na varanda da sua casa na virada de ano novo esperando você abrir a porta…
— Você vai esperar até quando?
— Até você abrir.
— E se demorar… Muito?
— Eu espero.
— E se eu não abrir?
— Eu espero. E posso não estar falando só da porta.
— Do que estaria falando então?
— Do seu coração. Da sua vida.
— Essa porta talvez não abra. Está meio enferrujada, sabe?
— Já disse que espero.
— Por mim?
— Por nós.
— Acho que você desistiria fácil.
— Ainda estou aqui.
— E pretende ficar até eu abrir, certo?
— Você entendeu agora?
— É romântico.
— Sim…
— Você nunca me fez nada romântico.
— Estou fazendo agora.
— Vai acontecer de novo?
— Abra a porta para saber.
— Só assim?
— Está ouvindo? A contagem regressiva.
“9, 8, 7, 6, 5…”
— Vai ficar aí mesmo, no seu ano novo?
— Sim.
— Você sabe que não vou abrir a porta assim tão fácil, não sabe?
— Sei.
“3, 2, 1…”
— Que este ano novo me traga você.
— Estou chorando.
— Eu posso ouvir daqui.
— Não vai me dizer para parar de chorar?
— Se eu começasse a lhe dizer tudo o que quero para você, para nós… Talvez nunca parasse de falar.
— E qual é o primeiro item da lista?
— Que você abra a porta.
— Acho que vou abrir.
— Vai?
— Vou.
— E por que estava chorando?
— Porque é bom.
— É bom chorar?
— É bom saber que alguém se importa.
— Qualquer alguém?
— Você. Outro alguém não serviria.
— Agora você é que está sendo romântica.
— Eu sempre fui.
— É verdade. E eu te amo.
— Isso também é bom.
— Então vai abrir?
— Não.
— Não?
— Não encontro as chaves. Acho que as joguei fora.
— Da casa?
— Não, do coração. A casa está aberta.
— E eu posso entrar?
— Está aberta.
— E agora… Onde foi que deixou as chaves do coração? Posso ajuda-la a procurar.
— Me livrei delas na última desilusão amorosa. Acho que prometi nunca mais deixar alguém entrar.
— Mas assim eu não vou poder entrar…
— É…
— Podemos construir outra casa. Só nossa. O que acha?
— Está me pedindo em casamento?
— Pode ser. – ele ri enquanto se ajoelha – Você aceita ser minha esposa?
— Está brincando? Temos dezessete.
— Você aceitaria?
— É claro.
— Que sim?
— Óbvio que eu seria sua mulher.
— Você pode ser minha pequena. Tipo, só minha.
— Eu aceito.
— E quanto às chaves? Não existe uma janela?
— Relaxa, acho que você conseguiu atravessar as paredes.
— Como um super-homem! – eles riem juntos.
— Eu diria que um super-garoto. Você ainda é meu pequeno, lembra?
— Como você é boba. Isso é contagioso?
— Com certeza, porque eu peguei de você.
— Vontade de ficar pra sempre.
— Então fica.
— Vou ficar.
— Que bom.
— Obrigado.
— Por…
— Me deixar entrar.
— Mas eu não deixei. Você que entrou.
— Eu deveria ficar ofendido?
— Não… Ainda bem que entrou.

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